4º dia de provas e encerramento da 1ª etapa do DSB2010 – Solaris campeã

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Equipe Solaris, campeã da 1ª Fase do DSB2010

Por Rafael Mendes

Neste domingo, 16 de maio, último dia da primeira fase do Desafio Solar Brasil 2010, ocorreram duas provas, sendo a segunda realizada no lugar daquela cancelada no último domingo, por conta do mal tempo. Neste âmbito, inclusive, não houve de que reclamar ontem: o bom tempo se firmou, o sol brilhou forte e o céu estava límpido como se espera que esteja em dias de grande importância e alegres comemorações.

Na 5ª e na 6ª prova, mais uma vez as equipes Solaris, Arpoador e Água Viva ocuparam o pódio, corroborando o resultado final que estava por vir. Na 5a prova, apenas a equipe Búzios sofreu DNS – além da Copacabana, fora da competição para reparos desde o domingo anterior. Ao fim da mesma, chegaram, nesta ordem, Solaris, Arpoador e HL1. Contudo, considerando as penalidades, tivemos Solaris em primeiro, Arpoador em segundo e Água Viva em terceiro.

Na 6ª e última prova, Peixe Sol e Albatroz tiveram problemas e sofreram DNF. Enquanto a equipe Albatroz retirava seu barco da água, um  de seus integrantes ainda proferiu a pérola de que “a água tem gosto ruim”. A ordem de chegada dos primeiros barcos já profetizava exatamente o pódio final da Primeira Etapa do Desafio Solar Brasil 2010: a vitoriosa Solaris em primeiro, a perseverante Arpoador em segundo e a determinada Água Viva em terceiro.

Os Campeões

1º Lugar – Equipe Solaris, do IFF

Após alcançar o 5º lugar do Desafio Solar Brasil 2009, a equipe retornou este ano revigorada e com um barco mais aprimorado, que completou as provas em 13 horas, 27 minutos e 12 segundos e “ficou muito superior ao do ano passado”, nas palavras de Damião Mendes de Almeida, professor do curso técnico de eletroeletrônica do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Fluminense (IFF – Cabo Frio). O barco, que em 2009 foi concluído em 30 dias, sofreu este ano uma reforma geral ao longo de 8 dias.

O ganho de experiência com a competição anterior permitiu uma melhor percepção dos problemas e soluções da embarcação, que apresentava falhas de nivelamento e alinhamento. Os cascos foram então desamarrados para que os problemas fossem solucionados, e foram então reatados. Foram também aperfeiçoados os sistemas elétrico, possibilitando um melhor aproveitamento da energia captada pelas placas solares, e de alimentação do motor, a partir da utilização da bateria Optima, específica para embarcações. O próprio motor foi trocado, haja vista que aquele utilizado no ano passado foi uma substituição, pois o que foi adquirido pela equipe ficou retido pela Receita Federal.

Daí ficou a preocupação com a propulsão, segundo o piloto Edílson Brasileiro da Silveira, que, durante a conversa com nossa equipe, recebeu, por telefone, os parabéns da própria reitora do IFF, ao que Edílson cordialmente agradeceu em nome de toda a equipe. Ele enfatiza também a participação do professor Flávio Félix Feliciano, que trabalhou no centro de equilíbrio e no projeto do catamarã, e ainda fez disso parte de suas aulas. O próximo passo era testar o barco aperfeiçoado e avaliar seu desenvolvimento na água, o que ocorreu apenas 2 dias antes do início do DSB. Descobriu-se inclusive que o peso total do barco não é um fator definitivo na competição, pois estava mais pesado do que em 2009. Em termos práticos, estes testes comprovaram a capacidade competiviva do novo Costa do Sol, enchendo toda a equipe de entusiasmo. Mesmo apresentando um melhor rendimento, o professor Damião afirma que “não se esperava um desempenho tão bom”, o que Edílson justifica pelas “dificuldades encontradas na última competição”. Eles tinham a consciência, afinal, de que as demais equipes também aperfeiçoariam seus barcos.

A partir daqui, Edílson acha que se deve continuar as melhorias no barco, como estudar uma forma de estabilizar melhor o barco em definitivo, sem a ajuda de lastro, modificando a disposição do mesmo. Ele pensa o Costa do Sol como uma primeira experiência, um modelo para um futuro projeto de um novo barco. Deve ocorrer também, talvez para 2011, a substituição do motor por um de fabricação própria do IFF, pois, de acordo com o professor Damião e o piloto Edílson, o motor Torqeedo utilizado por vezes apresenta falhas, opinião convergente com a de outras equipes que fizeram uso do mesmo modelo. Quando perguntado sobre a Frisian, o professor Damião responde: “dado esse sucesso, podemos pensar nisso, mas não é nosso objetivo agora. Vamos caminhando devagar”.

Por equanto, o professor se mostra já entusiasmado com a segunda etapa do DSB2010, que ocorrerá em Cabo Frio, onde será o anfitrião. Quanto a Edílson, diz ter aprendido muito sobre energias renováveis e acredita nestas como possibilidade de desenvolvimento do país. “Acho a inciativa de realizar o Desafio muito importante neste sentido e agradeço muito à UFRJ pela oportunidade e fico muito feliz em participar. Por virmos de um instituto técnico federal, estamos cumprindo o papel incubido a nós pelo governo federal com a meta de ajudar a desenvolver energias alternativas”. Edílson Brasileiro tem 20 anos de experiência com mergulho e veleja a 6, nas classes Laser e Dingue. Apesar de estar acostumado com o fator competição, admite que este é “sempre um momento de nervosismo, de tensão”. Bom brasileiro que é desde o nome, não desiste nunca, segundo ele próprio. E como, segundo o ditado, quem ri por último, ri melhor, enquanto conversávamos, Elis Regina cantava: “quaquaraquaquá, quem riu/quaquaraquaquá…” e Edílson responde, com vitoriosa alegria: “…fui eu!”

2º Lugar – Arpoador, do Polo Náutico UFRJ

Ao completar as provas do Desafio em 14 horas, 2 minutos e 41 segundos e atingir o segundo lugar, os garotos da equipe demonstram uma incrível superação em relação ao ano passado, quando disputaram pela equipe Búzios-Tecnaval e terminaram a competição com 30 horas, 59 minutos e 26 segundos, completando apenas 2 das 6 provas e amargando um penúltimo lugar na classificação geral (apesar, logicamente, de se tratar de competições diferentes, terrenos diferentes, condições climáticas diferentes e, especialmente, graus de experiência diferentes). De qualquer forma, se caracteriza como um grande exemplo de perseverança para as demais equipes, tal como no caso da equipe Solaris.

André Luiz Garcia, um dos integrantes da Arpoador, fala do desânimo que se abateu sobre todos ao fim da competição de 2009, em Paraty: ” a gente batalhou muito, passou noites sem dormir trabalhando no barco, se esforçou mesmo… E nenhum de nós tinha muita experiência, nem tinham começado ainda as aulas de elétrica no TecNaval.” Essa falta de experiência, apesar de muita força de vontade, foi fatídica em dificultar o desempenho da equipe, que hoje, já mais preparada, aponta erros de montagem, tanto do motor quanto da parte elétrica, tendo mais condições teóricas para tirar conclusões desta ordem. Além deste aspecto desenvolvedor e experienciador do Desafio, Rafael Mainoth, um dos pilotos da equipe Arpoador, chama atenção para o espírito competitivo saudável promovido pelo Desafio, onde os pilotos e as equipes se ajudam quando necessário. Mainoth, que não havia até então pilotado qualquer esécie de embarcação, sente-se privilegiado por ser o piloto da equipe, afirma que “todos estão juntos no trabalho do barco, mas o piloto tem uma emoção a mais, de se sentir competidor na prática, além de ser aquele que sabe melhor se o barco está indo bem ou não”. Junto desta emoção, Mainoth admite a existência de uma pressão a mais, uma responsabilidade a mais. Como o piloto “se coloca à frente da equipe”, no sentido de se colocar como responsável pelo desempenho da equipe, cabe a ele colocar o barco entre os primeiros. Em termos de navegação, Mainoth parabeniza a equipe DSB pela iniciativa de utilizar a energia solar e pela rota bem elaborada para os barcos, pois a Baía de Guanabara é uma área de tráfego de embarcações de grande porte. Contudo, ao traçar rotas mais próximas do litoral, o Comitê Técnico conseguiu garantir a segurança dos pilotos e a melhor visibilidade dos barcos pelos banhistas presentes na praia e qualquer um que passe por ali, provocando interesse e curiosidade. Rafael Mainoth agradece e parabeniza também o próprio local que sediou o evento, o Clube Naval Charitas, acrescentando que foi “muito bem recebido e atendido por um clube que é referência no Rio de Janeiro”.

Destaque ainda para uma cena de ativa cidadania e preocupação ambiental protagonizada por André Luiz Garcia: após o término da prova, ele deu algumas voltas com o barco e, percebendo a situação em que se encontram as águas da Baia, André decidiu tomar a iniciativa por contra própria de recolher o lixo. Em apenas 20 minutos, André já havia comseguido reunir uma quantidade considerável de lixo da Baía. “Já que o Desafio Solar tem essa proposta de preservar o meio ambiente, eu pensei em começar a limpar o lixo que já está lá, poluindo as águas, porque poluição não é só atmosférica”.

3º Lugar – Água Viva, do Instituto Náutico de Paraty

O VDC1, barco da equipe Água Viva, completou o Desafio em 14 horas, 5 minutos e 9 segundos, atingindo a terceira colocação, tal como no ano anterior. Entretanto, não se pode dizer que a equipe não evoluiu. Afinal de contas, todas as equipes participantes do DSB2009 que retornaram este ano, se aperfeiçoaram e apresentaram um melhor desempenho.

Portanto, para manter-se no pódio do Desafio, a Água Viva também precisou se aprimorar, o que foi feito com muito afinco, segundo o físico e professor Allan Reid, com objetivos que vão além da simples competição: ” nós temos nos dedicado muito, não só pelas provas em si, mas também pela própria filosofia do Desafio Solar de desenvolver tecnologias e energias limpas. O Desafio ainda conjuga tudo isto ao intuito do Instituto Náutico, de preparar os alunos para a vida, formando profissionais com o auxílio de experiências práticas e ambientalmente corretas como essa. O Desafio se caracteriza, então, como um catalisador da profissionalização dos nossos alunos”.

O Instituto Náutico, a princípio, surpreende quanto a este caráter formador, pois é, via de regra, uma escola de vela. O professor Allan explica, então, de onde vem este intuito profissionalizante, além do simples formar velejadores: “A proposta inicial do Instituto é, sim, ensinar a velejar, agregando a isto, logicamente, um ensino de cidadania. A profissionalização surgiu como consequência natural. Apesar de saber velejar, será muito difícil para o aluno tornar-se velejador profissional, mas ele pode se profissionalizar em construção, laminação de embarcações… Eletricidade náutica, por exemplo, tem um mercado bastante vasto na nossa cidadezinha [Paraty].” Em se tratando de seus alunos, o professor Allan transpassa um natural brilho de orgulho ao falar neles. Não deixa, portanto, de elogiar o trabalho dos pilotos, que tiveram participação bastante ativa na confecção do catamarã. O primeiro, (por ordem meramente discursiva e não qualitativa ou de importãncia, como fez questão aqui de frisar o professor) Fabrício de Jesus, fez o curso de Laminação com Fibra de Vidro no Instituto e hoje faz disso sua profissão, tendo sido, portanto, responsável pela laminação do VDC1. O segundo, Milton Netto, é aprendiz de mecânica e responsável por grande parte dos trabalhos relativos a esta área no VDC1. Allan acredita que assim, o Instituto realiza uma incubência sua de cunho social, “evitando sua marginalização ao possibilitar sua profissionalização”. Sobre a participação da equipe no DSB2009 em relação à edição deste ano, o professor afirma que chegou-se á conclusão de que, “para o barco ser competitivo, é necessário dispor dos equipamentos adequados”.

Assim sendo, a equipe investiu bastante nesta ideia neste meio tempo: adquiriu o motor Torqeedo, o que, de acordo com Allan, foi feito não por acaso justamente pelas 3 equipes campeãs, passou a utilizar a bateria Optima (a mesma da equipe Solaris) e o MPPT Outback, tudo isto possibilitado pelo patrocínio da Associação Cairuçú, que viabilizou a aquisição do novo motor, e pelo apoio da Titular das Baterias, que forneceu bateria e acessoria técnica. A estes seus parceiros, Allan Reid agradece em nome de toda a equipe. Contudo, o bom desempenho da Água Viva não foi determinado somente por estes fatores e a equipe não foi adjetivada como “destemida” por acaso. Já no primeiro dia, este caráter logo se mostrou evidente. Antes da competição, os alunos do Instituto Náutico trabalharam na confecção de uma carreta de encalhe. Um item, pode-se dizer, secundário, tanto que apenas esta equipe a possuia. Várias acabaram pedindo-a em empréstimo e a equipe o fez sempre que possível, mas nem todos os barcos eram compatíveis com a carreta. Apesar da realização deste item acessório, o próprio professor Allan Reid admite que, naturalmente, deu-se maior importância ao aprimoramento da embarcação, mas a carreta acabaria se mostrando imprescindível.

Na primeira prova do primeiro dia, pouco tempo após a largada, o suporte do motor se quebrou, devido à potência do novo motor. O barco então retornou à terra, sofreu DNF e, durante o decorrer de toda esta primeira prova, a equipe lutou contra o tempo debruçando-se sobre a confecção, às pressas, de um novo suporte, que precisava estar pronto a tempo de correr a segunda prova do dia. Foi necessário, portanto, colocar e retirar o barco da água por diversas vezes consecutivas, a fim de realizar sucessivos testes e reparos. Como a equipe dispunha de apenas 4 integrantes para realizar estar tarefas, não fosse a carreta de encalhe, gastaria-se muito mais tempo com o deslocamento do barco e talvez nem houvesse tempo hábil para os testes. Aquele item, a princípio  secundário, caracterizou-se como fator determinante e uma “surpresa agradável”.

Uma outra surpresa agradável, segundo Allan Reid, é o “espírito de colaboração” que predomina na competição, gerando diálogo e apoio entre as equipes, o que ele considera importantíssimo. Este espírito já é inerente à equipe Água Viva, que em 2009 acolheu a Equipe Vento Sul, da UFSC, durante o DSB2009 em Paraty, quando o Instituto Náutico estava em reforma, mas Allan promete agora uma melhor estrutura para sediar futuras edições do Desafio, fazendo juz à veia marítima de 400 anos da cidade de Paraty. A competição deste ano apenas reafirmou e desenvolveu aquele espírito de colaboração.

O professor Allan Reid (que sabe preparar um providencial e inigualável café solúvel) foi entrevistado precisamente no píer 1 do Clube Naval Charitas, ao lado do barco onde ele havia temporariamente se instalado, que fora emprestado pelo professor Jorge, da equipe Projeto Grael. Convenientemente, enquanto se falava sobre cooperação, este último vinha em direção ao píer. O professor Allan dizia então que “o conhecimento acadêmico não pode ser ‘tosco’ e prepotente de achar que se basta, por isso a colaboração, que ocorreu de modo espontâneo. Nesta terça, os alunos do Instituto Náutico de Paraty serão levados para conhecer o Projeto Grael, levaremos nosso próprio barco e haverá debates e trocas de experiências”.

Segundo o professor Jorge, do Projeto Grael, talvez a Escola Técnica Henrique Lage também se envolvesse no encontro. Aproveitando a presença do professor Jorge, debateu-se um pouco sobre o futuro do Desafio Solar. Allan Reid falou do convite que ambos receberam de Fábio Nascimento, do Comitê Técnico, para reavaliar e reformular as regras do Desafio, a fim de adequá-las às necessidades reais da competição: “me sinto lisonjeado por receber este convite do Fábio, um profissional muito competente, significa o reconhecimento de uma pessoa íntegra”. Sobre as regras, Allan pensa, de acordo com a filosofia do Instituto Náutico de Paraty, que “a competição precisa se adequar às exigências da Marinha do Brasil, o que significa dizer, por exemplo, apresentar todos os devidos equipamentos de segurança e exigir a a habilitação dos pilotos…” E a questão não se resume à Marinha, vai bem além. Para Allan, “o domingo passado [quando da ocorrência de fortes ventos e chuva, responsáveis pelo cancelamento da prova e do ‘capotamento’ do Copacabana] mostrou que o mar precisa ser respeitado. Uma condição básica de respeito é a garantia de segurança. Não podemos ser pegos desprevenidos por estarmos despreparados. Vamos trocar ideias para, juntos, seguir adiante e melhorar no que for possível”.

Comemoração

Ao fim das regatas, houve um churrasco de confraternização entre equipes e organização do evento, logo após o pódio final da competição. Para não deixar ninguém de fora da festa, nossa equipe preparou prêmios especiais e bem humorados para as demais equipes, que os receberam no pódio com a mesma ovação vigorosa conferida às três equipes campeãs.

A Equipe Desafio Solar Brasil deixa aqui registradas suas congratulações a todas as equipes e todos os participantes e envolvidos e espera o retorno de todos na 2ª Etapa do DSB2010, que realizar-se-á em agosto do presente ano.

Bons sóis e até breve.